Guavira

“Guavira, guaviroba, guavirova, guabirá

Não importa o nome que se dá

Na fronteira virou verbo mui usado.

Se a alcunha de paraguaio é mandioqueiro

De sul mato-grossense é guavireiro

E quem anda pelos matos, campos,

Estradas de fazenda, namorando,

Dizem que está é guavirando…

Infalível para marcar a gestação

Das crianças docemente concebidas

Em meio às dulcíssimas frutas

No afã de um abraço, um beijo, uma mordida

Os corpos se enleiam como cobras

Impossível resistir à atração.

Os guavirais estimulam os demônios

Os demônios estimulam os hormônios

Os hormônios estimulam os casamentos

Para a aflição de pais e mães ciumentos.

E daí a nove meses…

Há uma farta parição

Nos meses de julho e agosto

Dos filhos da Guavira

Mantendo sempre viva a tradição

De que chupar Guavira junto

Reforça a amizade, cria cumplicidade

E une o coração.” *

Na oficina a artífice

Se depara com a matéria

Pronta a ser manuseada

Da floresta se origina, lá em seu estado biomórfico

Tronco nodoso e tortuoso, copa frondosa e generosa

A madeira já serrada, laminada e empilhada

Inicia sua jornada pelas mãos habilidosas

Pela mente criadora, pelos olhos curiosos

E aos poucos se transforma,

Pouco a pouco toma forma.

Corte, serra, lixa, cola

Arredonda, alisa, molda,

E eis que aquela chapa lisa

De madeira ortogonal

Faz o percurso de volta à sua forma original,

À sua condição de árvore, mas agora interpretada

Pela imagem concebida na retina da artesã.

Julia Krantz

*Trecho do poema “Guavirá Potí”, de Marcus Antônio Mbaretê Ruiz

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