Formas do mundo. A natureza entrelaçada, emaranhada, cerzida nas entranhas da Terra, aflora sobre a superfície em arabescos complexos, biomórficos, que se ordenam segundo critérios que o intelecto humano não alcança, mas que ao observador atento se derramam em harmonia, beleza e força.
Na retina daquele que se propõe a abraçar o que puder dessa explosão (silenciosa ou não) de estímulos visuais, se condensam a luz e a sombra do mundo. O desenho então sucede mais uma vez, nesse passeio que faz do objeto ao olho, e de volta ao objeto. A percepção se estende aos outros sentidos, percorre o tato, o olfato, o som que se ouve, adentra esse novo universo único, se dissolve, se mistura à corrente sanguínea, se expande nos pulmões, comove ao chegar no coração. Terceiro desenho.
O retorno é certo, impreciso, suave ou intenso, mas absolutamente permeado por todas as sensações impregnadas ao longo da jornada metabólica pelos órgãos internos do ser. Nesse momento o desenho tem a chance de se manifestar pela quarta vez, nas teclas pressionadas ao piano, no som emitido pela boca, nos passos que traçam um novo percurso, no entalhe da goiva sobre a madeira, nas mãos que manipulam um pedaço de argila, nos dedos que movimentam o lápis sobre uma folha de papel.
Julia Krantz