Varrer o piso da oficina após um dia exaustivo de trabalho. Pó, poeira, serragem, cavaco. Sobras. Aparas de madeira configuram novas formas e incitam novas ideias. Resíduos da produção de um projeto recente, das mãos do artífice que deslizaram sobre a matéria, que a moldaram segundo sua necessidade de expressão. Mãos que aprendem continuamente o ofício escolhido, mãos que se relacionam com a matéria em uma simbiose plena de empatia, cumplicidade, humildade e harmonia.
O óleo dá lustro à peça recém terminada, etapa final de acabamento após a infindável sequência de lixas.
Antes delas, as lixas, os encaixes precisos seguiram a sequência lógica de uma montagem que não dá espaço à imprecisão. Serras, serrotes, plainas, formões e goivas delineiam na prancha bruta de madeira seu formato final, suas curvas, espigas, furos, sua função na composição da peça idealizada. A ideia. Ela brota como um afluente de um rio caudaloso, pleno de imagens, memórias de sensações, vivências e encontros, pleno de substratos colhidos ao longo de toda uma vida. Ao afluente se deslocam algumas dessas memórias, condensadas na manifestação corpórea, palpável de um novo objeto.
Julia Krantz