“Não, não
São Paulo é outra coisa
Não é exatamente amor
É identificação absoluta”
Itamar Assumpção
Sou eu, fui sempre imagem, reflexo exato, inexato, dessa potência instigadora, exuberante e compacta.
Aglomero em mim as tantas faces desta vasta cidade, o ruído demolidor da escavadeira sacudindo meus sentidos, o cheiro quente da nova camada de asfalto encobrindo crateras do descaso, a tempestade ácida corroendo esqueletos de edifícios inacabados.
Cinza chumbo, cinza prata, cinza líquido que desagua em mim a lava condensada de provocações.
De solavanco a cidade me pergunta: e aí? Vai fazer o que com tudo isso?
E da mesma maneira como a era brota do vinco da rachadura de concreto, da mesma forma que as raízes da seringueira estouram o pavimento outrora polido, ortogonal e limpo, da minha mente as ideias saltam, invadem a dimensão real, factual, geográfica do meu ateliê e se manifestam através da matéria, madeira, que ao som descompassado e ruidoso das máquinas e ferramentas se avoluma, se reorganiza em conexão com tudo oque sou. Sou São Paulo. Com amor.
Julia Krantz
1 Comment
Dizem que a Paulista é o coração de Sampa. Diz um amigo meu que é o ataque cardíaco…
Esse meu amigo é Miró de Muribeca, “poeta bico doce, jogador de futebol”.
Um dia lhe apresento ele, Julia!