“VIDA DA ÁRVORE ACABOU, NÉ, ASSIM QUANDO CORTOU, VIRA MADEIRA. MAS DEPOIS DE VIRAR MADEIRA, QUANDO VIRA ASSIM OBJETO, AÍ PODE COMEÇAR NA SEGUNDA VIDA, DE USO. ”
MORITO EBINE
A matéria prima que se escolhe para trabalhar traz em si muito do que se pretende desde o resultado plástico e funcional imediatamente relacionado ao produto final, até as intenções menos diretas associadas a questões maiores concernentes ao relacionamento do produto com a sociedade e seu ambiente.
A madeira traz consigo características peculiares que lhe conferem larga vantagem sobre outros materiais, em primeiro lugar por sua condição de recurso absolutamente renovável, desde que explorada de forma sustentável, garantindo a sobrevivência e o florescimento das florestas nativas dos mais diferentes tipos de vegetação ao redor do mundo. Em segundo lugar pode-se citar a variedade de espécies, com suas cores, texturas, cheiros, densidades, sabores, pratos cheios para o criador inspirado. Em terceiro lugar vem a trabalhabilidade da madeira, que traz inúmeras possibilidades e se presta com a mesma maestria a construções de edificações, pontes, embarcações, instrumentos musicais, peças de mobiliário, esculturas, gravuras, brinquedos, jogos etc.
E à frente de tudo o que podemos atribuir a esse material tão rico e complexo, a natureza ainda nos abre, com sua generosidade sem limite, a possibilidade de resgatarmos valores perdidos de cooperação mútua homem/meio ambiente, de estímulo à produção e consumo conscientes de bens duráveis, atóxicos e biodegradáveis e do trabalho do artífice que manuseia a madeira com amor e simpatia.
O trabalho feito com as mãos estimula o trabalho mental, ou como diria Richard Sennett, “fazer é pensar”. Imbuídos dessa premissa os artífices aqui reunidos aprenderam, ao longo dos anos passados em contato direto com a matéria prima de sua escolha, a compreendê-la e utilizá-la com o respeito que se dá a um ser vivo. A madeira, que já foi árvore, se transforma a partir das mãos habilidosas do artesão e ganha a forma de um banco, de uma escultura, de uma casa.
Dos incontáveis encontros no alto da Serra da Mantiqueira, no espaço de pensar/fazer/pensar do nosso amigo e mentor Morito Ebine, extraímos idéias, técnicas, conhecimento, sugestões e críticas cujo resultado se traduz hoje nessa pequena mostra do que é possível se produzir através do trabalho artesanal com essa matéria tão nobre e generosa.
Móveis, objetos e artífices se entrelaçam por um momento em uma atmosfera onde o observador não é mero espectador, mas um novo canal possível de disseminação e resgate da apreciação do trabalho manual.
Julia Krantz