Julia Krantz

Meu trabalho, ou minha busca profissional e pessoal ao longo dos anos se retrata em essência nas considerações abaixo

A Busca

O aprimoramento técnico e o desenvolvimento pessoal artístico contínuo, que viabilizem manipulações mais precisas na composição das peças elaboradas, com melhor compreensão das características intrínsecas da matéria prima escolhida, garantindo uma exploração mais consciente e ampla das possibilidades que a mesma oferece.

O Compromisso

A consciência ambiental que permeia a correta seleção e utilização de matéria prima renovável, através da obrigatoriedade auto imposta de trabalhar com madeira proveniente de áreas ondea sustentabilidade da floresta brasileira é garantida pelo correto manejo desua flora, e pela viabilização do desenvolvimento das comunidades que sobrevivem do que a floresta lhes proporciona.

O Trabalho

Uma reinterpretação do movimento sinuoso das águas, da organicidade da natureza, na construção de volumes através do uso de variadas espécies de madeiras nativas brasileiras, onde função e plasticidade se fundem em absoluta interdependência.

Madeira

A matéria prima que se escolhe para trabalhar traz em si muito do que se pretende desde o resultado plástico e funcional imediatamente relacionado ao produto final, até as intenções menos diretas associadas a questões maiores concernentes ao relacionamento do produto com a sociedade e seu ambiente.

A madeira traz consigo características peculiares que lhe conferem larga vantagem sobre outros materiais, em primeiro lugar por sua condição de recurso absolutamente renovável, desde que explorada de forma sustentável, garantindo a sobrevivência e o florescimento das florestas nativas dos mais diferentes tipos de vegetação ao redor do mundo.

Em segundo lugar pode-se citar a variedade de espécies, com suas cores, texturas, cheiros, densidades, sabores, pratos cheios para o criador inspirado.

Em terceiro lugar vem a trabalhabilidade da madeira, que traz inúmeras possibilidades e se presta com a mesma maestria a construções de edificações, pontes, embarcações, instrumentos musicais, peças de mobiliário, esculturas, gravuras, brinquedos, jogos etc. E à frente de tudo o que podemos atribuir a esse material tão rico e complexo, a natureza ainda nos abre, com sua generosidade sem limite, a possibilidade de resgatarmos valores perdidos de cooperação mútua homem/meio ambiente, de estímulo à produção e consumo conscientes de bens duráveis, atóxicos e biodegradáveis e do trabalho do artífice que manuseia a madeira com amor e simpatia.

Desenho e Produção

Design e sustentabilidade são indissociáveis, a meu ver, mas essa idéia realmente foi perdendo sua obrigatoriedade intrínseca a partir da revolução industrial.

As guildas, ou oficinas de artesãos traziam essa associação de forma intuitiva, natural, não se falava no assunto, porque ele já era parte do cotidiano, porém a corrida por produtividade e consumo como sustentáculos das sociedades modernas nos afastou das relações harmoniosas com a natureza, nos colocando acima do meio ambiente, como se pudéssemos dirigi-lo ou até devastá-lo sem sofrer as conseqüências de nossos próprios atos.

Eu procuro no meu trabalho aprender diariamente a resgatar o que nos foi natural um dia, o respeito pela natureza da qual somos somente uma pequena parte, e faço isso através do uso consciente de uma das poucas matérias primas renováveis de que dispomos, a madeira, procurando adquiri-la de fontes sustentáveis, e através do manuseio na oficina de forma a resgatar técnicas tradicionais de marcenaria e da produção de peças com maior longevidade, que possam durar por gerações, desestimulando o consumo desenfreado.

A natureza é minha grande fonte inspiradora, a água, o movimento das nuvens, o curso de um rio, a sinuosidade de um galho de árvore. E alguns criadores ao longo do tempo que souberam transpor para suas obras também sua visão da natureza, como Gaudi, Frank Lloyd Wright, Tapio Wirkala entre outros.